Os “ENCANTADORES” de Ciência

10/06/2021

Eu sou curiosa, portanto sou cientista, e vc?

Por Paloma Marques dos Santos

Olá pessoal, espero que estejam todos bem! Meu nome é Paloma Marques Santos, sou bióloga e moro na cidade de Belo Horizonte -MG. Atualmente eu sou bolsista no Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros, centro de pesquisa do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão federal responsável por cuidar de nossas espécies e de nossas Unidades de Conservação. Eu também sou pesquisadora associada ao Instituto Tamanduá, uma organização não-governamental. Meu papel de bióloga, em ambas as instituições, é na pesquisa e conservação das preguiças, tamanduás e tatus do Brasil. Esses bichos bem fofinhos formam o supergrupo Xenarthra (xeno - estranhos; arthra - articulações) e algumas espécies estão ameaçadas de extinção, ou seja, elas podem sumir do planeta Terra se não fizermos nada. Portanto, eu, juntamente aos institutos, desenvolvo ações para que esses bichinhos tão legais morem em nosso planeta por muitos anos.

Tornei-me cientista porque sou muito curiosa. Um cientista não precisa ser mega inteligente. Basta ser curioso, sempre buscando respostas para qualquer tipo de pergunta, buscando soluções para os problemas. No meu caso, busco soluções para a conservação de espécies, e para tanto, estou sempre buscando conhecer as estratégias mais eficazes para que os Xenarthra não sejam extintos.

Escolhi a carreira de bióloga pela possibilidade de descobrir novos mundos, novos rumos. A felicidade de ver um animalzinho na natureza - mesmo que não seja a primeira vez. A descoberta de respostas e os eternos questionamentos para garantir a existências deles.

Descobri-me cientista quando eu já era adulta! Quando mais nova, eu achava que para ser cientista tinha que ser superinteligente, ter um QI parecido com o do Einstein, ser homem, branco e velho! Hoje em dia, eu percebi que todas e todos nós podemos ser cientistas, basta sermos curiosos e ter fome de conhecimento. Então, como mulher preta e nordestina, eu poderia sim, ser uma cientista, e segui meu sonho.

Como cientista eu também enfrento desafios, e infelizmente, um deles é a falta de dinheiro. Isso pode dificultar nossa pesquisa, o andamento do conhecimento. É um desafio, mas não uma barreira!

Agora, eu quero deixar um recadinho para você, criança e jovem que sonha em ser cientista: siga seu sonho, pois você pode sim ser um cientista! Se alguém lhe disser que não, ou impor barreiras, ignore e deixe passar, pois esta pessoa está errada. Ser cientista é ser inquieto, curioso, teimoso.

Ficou curioso/curiosa em conhecer mais sobre o trabalho da cientista Paloma Marques? Vou deixar aqui algumas dicas: 

- Preguiça de Coleira e Florestas: www.youtube.com

- Vivendo sob pressão: a força da preguiça-de-coleira em meio a uma Mata Atlântica desmatada: biologiadaconservacao.com.br

- Currículo lattes. lattes.cnpq.br




Por vários caminhos, uma trajetória: da Bélgica para o Brasil

Por Raoul Henry

Prof. Raoul esteve em Belo Horizonte para apresentar sua experiência durante o "I Workshop sobre Monitoramentos Participativos de Bacias Hidrográficas" quando nós estávamos finalizando nosso primeiro ano de atuação em Minas Gerais. Nesta foto, Prof. Raoul está exatamente no meio da fila de pessoas em pé. 

Nasci em Namur na Bélgica e, em 1950 quando eu tinha 2 anos de idade, meus pais foram morar no Congo Belga, colônia da Bélgica situada na África Equatorial. Quando atingi a idade de 6 anos, quem me alfabetizou foi minha mãe. Mas teve muitas dificuldades pois não era professora e, como vivíamos na selva africana, longe de qualquer escola, ela resolveu me ensinar as primeiras letras (em francês). Mas, como mencionou no seu livro de memórias ("Minha passagem por três continentes"), achava que seu filho Raoul era "burro" porque aprendia muito pouco. Então, consultou algumas freiras que ensinavam aos congoleses e que lhe disseram: "A senhora quer ensinar um programa, que devia ser de 6 meses, em dois meses"!

Em 1960, a família retornou para a Bélgica em definitivo, pois com a independência do Congo, ficou inviável a permanência dos belgas na África. Meu pai era engenheiro agrônomo e tinha muitas dificuldades em se recolocar no mercado de trabalho, até que viu uma boa oportunidade: ir para o Brasil. Nesta época (inicio da década de 1960), a Bélgica comprou uma fazenda em Botucatu (SP) para formar uma colônia de antigos profissionais que tinham vivido na África. Assim, cheguei a Botucatu em 1962, sem saber falar uma palavra de português. Na Bélgica, eu estava no 8º. ano na escola e, por falta de informação, tive de retroceder para o 5º. ano. Tivemos noticia que seria possível recuperar os anos em atraso em função da imigração, se fizesse exames de Madureza (como se chamava na época o Supletivo). Estudei bastante e passei na primeira tentativa nas disciplinas de Matemática, Geografia e História do Brasil, mas fui reprovado em Português! Na segunda tentativa, fui aprovado nesta disciplina e consegui recuperar dois anos "perdidos" (devido à vinda ao Brasil). Continuei meus estudos e ingressei no Científico (ensino Médio). A dúvida durante os três anos do Científico era que carreira seguir. No início eu imaginava querer fazer Arqueologia, mas não prossegui nesta opção pois acreditava que não havia campo para trabalhar nesta área no Brasil. Até que um dia vi no quadro na escola secundária uma folheto afixado explicando o que era a Biologia e o que poderia fazer. Eu decidi seguir esta área e ingressei na Faculdade de Ciências Médicas e Biólogicas de Botucatu, na minha primeira tentativa de vestibular. Durante a graduação fiz vários estágios (Zoologia de Aranhas, Botânica, Anatomia e Genética). Nesta última área (Genética), trabalhei com drosofilas junto com uma colega da graduação cujos resultados foram publicados. Um dia falando com meu orientador (um geneticista) disse a êle que não era bem isto que gostaria de me dedicar pela vida toda! Eu tinha lido um livro intitulado "Ecologia" de Eugene Odum, emprestado por este orientador e achei que tinha "descoberto" a área que gostaria de seguir daí em diante. Êle me indicou um colega dele, professor da Universidade Federal de São Carlos e, eu fui conversar com êle para fazer o estágio de final de graduação. Este professor, por sua vez, me disse para conversar com o chefe dele, Professor José Galizia Tundisi, coordenador de um projeto de pesquisa em andamento na Represa do Broa (Lobo). E foi assim que ingressei na área de Ecologia de Represas.

Hoje, sou Professor Titular da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp/Botucatu) (aposentado, mas ainda em atividade) e tenho certeza que os caminhos que percorri desde a Bélgica, passando pelo Congo e me instalando na pesquisa no Brasil culminaram em uma excelente escolha profissional.

Quer saber mais sobre as pesquisas do Prof. Raoul? Acesse: lattes.cnpq.br/3227572672470260




Minha escolha: ser feliz!

Meu nome é Flavia, sou professora da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, desenvolvo trabalhos nas áreas de qualidade da água, tratamento de efluentes e dispersão de poluentes. Sou coordenadora do Laboratório de Dispersão de Poluentes (LADIP) da referida Universidade.

E minha história começa assim... uma menina, sem saber que curso escolher para prestar vestibular, que gostava de bichos, pensava em ser veterinária, mas também vislumbrava os cursos de medicina e odontologia, mas que no fundo no fundo, era apaixonada por matemática.

Em meados de 1997/98 quando prestei vestibular, ainda não tinha o curso de medicina veterinária na UFES. Medicina, afff, concorrido demais para quem não tinha se empenhado muito para a prova do vestibular, daí um curso chamou minha atenção: Agronomia. Li as atribuições do engenheiro agrônomo, tinha uma parte que mexia com animais, pronto, curso escolhido!!!!!

Certo dia, ouvindo os resultados dos aprovados no vestibular de agronomia na UFES pela rádio, escutei o meu nome, dei pulos de alegria, fiquei imensamente feliz. Começa então minha jornada, de futura cientista...

Quando cheguei na UFES em Alegre-ES
Quando cheguei na UFES em Alegre-ES

No período indicado, fui à UFES fazer minha inscrição, nessa época, morava em Vila Velha. Para minha surpresa, neste dia descobri que o curso de agronomia era realizado na cidade de Alegre, que fica a uns 200km de onde eu morava, não daria para ir e voltar todos os dias, teria que morar em Alegre, um misto de tristeza e felicidade, independência e novidades. Meu pai não queria que eu fosse morar tão longe, mas minha mãe insistiu e me apoiou em todas as decisões tomadas, e lá estava eu em Alegre, morando com uma senhora que alugava um quarto. As aulas da universidade iniciaram e fui fazendo vários amigos, e assim, formamos uma república, de cinco meninas. Foi uma experiência maravilhosa, compartilhei vários momentos de alegria e tristeza. Quando estava no terceiro período, fiz minhas malas e voltei para Vila Velha (não queria mais fazer agronomia), fiquei um mês lá, entrei para fazer cursinho em uma famosa escola, com a ideia de tentar medicina, o mês se passou, senti muita falta daquela cidade (Alegre) e mais ainda das pessoas que eu convivia e resolvi voltar para minha republica. As meninas já tinham colocado alguém no meu lugar mas me aceitaram de volta na casa, mas tivemos que dormir num quarto com 3 pessoas, e agora éramos 6 na república. Fiz amizades que tenho até hoje, sendo a Marcela minha amiga super especial, irmã de coração.

Eu e minha amiga Marcela
Eu e minha amiga Marcela

Ao amadurecer um pouco e explorar mais o curso de agronomia, vi que eu poderia me especializar em várias áreas. Tive um apreço especial pela área de recursos hídricos, trabalhado com manejo de irrigação com o professor Edvaldo, que me acolheu muito bem, aí começaram os trabalhos de pesquisa, fui bolsista do PIBIC. Naquela época não era costume os alunos terem computador em casa, eu e a Marcela trabalhávamos noites adentro na sala do professor, escrevendo trabalhos de pesquisa para serem publicados. O tempo passou e eu vi que independente do curso escolhido, seja o melhor profissional, daí, sempre haverá um bom lugar para você. Segui na área acadêmica, fiz mestrado, doutorado e pós doutorado na Universidade Federal de Viçosa, sob orientação do professor Mauro Martinez, que além de excelente profissional era uma pessoa incrível. Nesse tempo em Viçosa, morei em uma república com 7 meninas, foi um tempo maravilhoso, de descobertas, renúncias, aprendizado. Dentre as amigas que morei, até hoje tenho contato com algumas, dentre elas a Viviane, um poço de bondade, que sem dúvida me tornou uma pessoa melhor.

Passei no concurso da UESB, nossa, que felicidade, nem acreditei. Amo lecionar, amo trabalhar nessa instituição, até publiquei um livro!!! 

Barros, F. M. 2013. Qualidade da Água e Eutrofização. 1a ed. 102 p.
Barros, F. M. 2013. Qualidade da Água e Eutrofização. 1a ed. 102 p.

A experiencia nessa jornada de cientista foi e está sendo maravilhosa. Eu faria tudo novamente, do mesmo jeitinho. É incrível poder descobrir coisas novas todos os dias, ver que quanto mais estudo mais dúvidas tenho, e que sou um ser humano em constante transformação, cometo erros e acertos, tenho a capacidade de mudar de opinião. É incrível, o quanto a pesquisa nos faz pessoas mais cultas, mais maduras.

E a minha mensagem para quem quer ser um cientista é: Onde quer que você esteja, esteja por inteiro, dê o seu melhor, não importa a profissão que você irá escolher, faça o melhor que pode, pois para um bom profissional sempre há lugar no mercado!!!

Quer saber mais sobre as pesquisas da Flávia? Acessehttps://lattes.cnpq.br/2085232736106748

Cientistas em ação:
Atividades do Laboratório de Dispersão de Poluentes (LADIP), coordenado pela professora Flavia Mariani Barros. no monitoramento da qualidade da água e vazão do rio rio Catolé Grande, Itapetinga, Bahia.  
Nestas imagens, a professora e alunos de iniciação científica da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)




Nesta seção iremos trazer Convidados Especiais: os nossos "Encantadores de Cientistas Cidadãos".

Afinal, quantos cientistas nós conhecemos que estão fazendo descobertas incríveis e trazendo tecnologias inovadoras para o nosso dia a dia? Quantas oportunidades temos de bater um papo com eles? Não seria interessante conhecê-los de perto e nos envolver com as histórias de suas descobertas? Acreditamos que sim, que vocês, como nós, estão cheios de curiosidades pelo trabalho deles. E é por isso que nós vamos convidá-los a tirar um tempinho para nos contar suas histórias por aqui.

Quais são as perguntas que estão sendo respondidas sobre as nossas águas? Quais as implicações dos resultados dessas pesquisas no nosso dia-a-dia? O que eles gostariam de saber junto conosco?

Nesta seção faremos postagens extras, em períodos não determinados trazendo, sempre que possível, pesquisadores que possam nos contar um pouquinho sobre suas trajetórias e nos apresentar os seus sonhos.

Fiquem à vontade, inclusive, para nos enviar sugestões e perguntas sobre o que os interessariam, através de nossa página de Contatos. Faremos a ponte entre vocês e um pesquisador para responder suas curiosidades. Afinal, como todo pesquisador, você, provavelmente, tem muitas perguntas a serem respondidas.

Seja atraído pela profissão de Pesquisador (Cientista) conosco!

© 2020 Juliana França, doutora em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
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